Parentalidade Consciente com a Psicóloga Infantil Inês Afonso Marques
O que é a Parentalidade Consciente e a Neuropsicologia?
Vamos ouvir a Psicóloga Infantil Inês Afonso Marques.
http://www.gymboreeclasses.pt/playlab-academy
Gostaria de ouvir apenas o audio? https://bit.ly/dicionariodascriancas
Para este primeiro podcast convidámos a Psicóloga infantil e Psicoterapeuta Infantojuvenil Inês Afonso Marques para pedirmos inspirações para uma parentalidade consciente feliz e conversarmos sobre o tempo especial para saltar, sujar, desenhar, sorrir, conversar e sonhar.
A Inês Afonso Marques é autora de 3 livros e coordenadora da área infantojuvenil da Oficina da Psicologia. Tem 16 anos de Experiência clínica e é frequentemente convidada para palestras e entrevistas sobre parentalidade, neuropsicologia infantil, psicologia infantil, psicoterapia infantil, educação e saúde.
Em 2014, em coautoria com Rita Castanheira Alves, publicou o livro É Tão Bom Fazer Amigos.
A Inês Afonso Marques foi Professora Gymboree e a sua influência perdura até hoje, seja na formação de novas Professoras, nos artigos publicados no nosso blog e nos conselhos e opiniões que nos continua a dar.
Poderá encontrar mais informações na sua página em: http://www.inesafonsomarques.pt
https://bit.ly/inesafonsomarques
Se quiser mais detalhes sobre estes temas visite: https://bit.ly/gymboplay
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Parentalidade Consciente. Inês Afonso Marques.
Olá Inês!
Olá Nuno!
Tudo bem?
Então eu guardei aqui um bocadinho, para te apresentar.
Se calhar vai ser um pouquinho longo, porque o teu currículo é extenso e notável.
E eu não tive coragem de cortar nada.
Mas eu baseei-me aqui na tua página Web.
Eu deixei um link aqui nos comentários que está direcionado para a tua página da Oficina da Psicologia.
Mas a tua página pessoal é a InêsAfonsoMarques.pt. As pessoas também podem encontrar lá.
E então quem é a Inês?
Portanto tu és licenciada em psicologia pela Faculdade de Psicologia e educação, tens uma pós-graduação em psicoterapia com crianças e adolescentes, uma pós-graduação em neuropsicologia pediátrica, tens formação em MDR. E eu gostava que depois falasses um bocadinho sobre isto que eu só hoje é que aprendi sobre este termo, tema.
Novamente com especialização em crianças e adolescente, tens uma formação avançada e especializado em terapia de terceira geração, és curadora da área infanto-juvenil da Oficina da psicologia e publicaste quatro livros, vamos falar sobre três deles, porque eu não conhecia o teu primeiro livro em com a autoria com a Rita.
E os teus livros foram: “É tão bom fazer amigos”, da arte plural, “O que crescemos juntos” da 08, “A brincar também se educa” da manuscrito e “Sonhar com arco-íris” da 08 também.
Tens 15 anos de experiência em terapia, és palestrante em várias conferências, tens colaborações muito frequentes com meios de comunicação social, fizestes um trabalho muito giro com a SKIP e com o Bongo.
Eu a preparar-me aqui para este podcast, tive a ver os teus vídeos do Bongo, que não tinha visto todos.
Recomendo vivamente aqui à nossa audiência, são muitos giros, são pequenas pérolas de sabedoria.
E numa outra vida também trabalhaste no Gymboree, nós trabalhamos juntos por um bocadinho e foi uma altura marcante e tu inspiraste muito as nossas professoras, deste formações muito giras, deixaste coisas escritas que ainda hoje usamos não só no nosso blog como documentos internos.
Acima de tudo ficou uma amizade e portanto é uma honra e um privilégio poder contar contigo e receber um bocadinho da tua mentoria com alguma frequência.
E pronto acima de tudo, melhor ainda do que estas coisas todas, és mãe de duas crianças, um menino e uma menina.
Tudo isto junto te deixa te particularmente qualificada para falarmos sobre alguns temas que que eu gostaria de trazer hoje e que eventualmente gostaria de trazer outras vezes porque as nossas conversas fluem sempre super bem.
Eu se calhar começava pelos livros, se não te importas e se calhar o crescemos juntos, nós tivemos a fazer um Giveaway do “Crescemos Juntos” já oferecemos um esta semana.
E o “crescemos juntos” são um conjunto de inspirações, 365 mais uma para uma parentalidade feliz.
Uma coisa que eu achei curiosa foi que nenhuma das inspirações são triviais, portanto a pessoa pensa 365 é um número super sexy e portanto é um por cada dia do ano.
E a tendência seria ter que espremer um bocadinho para encontrar as 365, mas eu achei que tu tinhas muitas mais, e portanto tinhas um mealheiro infinito de inspirações.
E a minha primeira pergunta se calhar era.
Tu tens efetivamente um mealheiro de inspirações?
E como é que te inspiras para colecionar este tipo de inspirações para os outros?
Não, eu não tenho um mealheiro de inspirações, assim logo à partida.
Mas a ideia era um bocadinho ajudar as pessoas a encontrar aqui uma espécie de rumo que as pudesse balizar.
As pessoas, neste caso os pais, educadores, professores, avós, outros familiares tinham aqui um papel importante no ajudar os mais pequeninos a crescer.
E portanto a ideia era mesmo esta, encontrar algum tipo de informação que por vezes é um bocadinho disruptiva e que até coloca as pessoas a pensar: mas o que é que ela quer dizer com isto?
E poder servir aqui um bocadinho de baliza, de guia, de foco diário, neste exercício da parentalidade.
Onde é que eu vou inspirar?
Bem, há uma base tem que ser óbvia não é?
Que é a ciência, que é investigação, que é tudo o que é pesquisa que vai sendo feita na área da educação, da parentalidade e no desenvolvimento infantil.
E depois a verdade é que também me inspiro muito e aprendo imenso com as famílias com quem vou, com as famílias, adultos, crianças, adolescentes com quem vou trabalhando diariamente.
Aqueles que são os seus principais receios, aquilo que são as suas dúvidas. Tudo isto de alguma forma também a mim vai me ajudando aqui a orientar naquilo que possa fazer mais sentido, às famílias neste caso que iriam ver os livros.
Sim, absolutamente.
Eu estava aqui fazer algumas reflexões sobre o livro quando o estava a ler.
Obviamente todos nós somos modelos para as nossas crianças, portanto bons ou maus modelos, conscientes ou inconscientes, voluntários ou involuntários, eles observam nos e imitamos.
Nós temos uma responsabilidade, portanto como vá la, oleiros deste pequeno barro que nos é entregue, é um barro divino não é?
Que vai crescer por si e beber de muitas inspirações. Nós provavelmente temos uma responsabilidade.
O que eu senti neste livro foi que pronto, tu dominas aqui um bocadinho o caminho, às vezes iluminas algumas partes mais escuras da educação, e se calhar era interessante para mim perceber que tipo de feedback é que tiveste dos pais que leram o livro. Houve algumas inspirações em particular que tocaram mais as pessoas? Que eram mais inovadoras? Mais disruptivas?
Há bocado falaste sobre elas, que queres escolher algumas?
Olhei porque também tinha o livro ao meu lado.
O que é curioso é que o Feedback às vezes não é nesses tons destrutivas, é daquelas que que até poderiam ser as mais acessíveis vamos pôr assim, ou seja tônica, por exemplo, da qualidade do tempo que se passa com os filhos e nunca íamos na lógica do falta de tempo.
E as pessoas dizerem: hoje pode ser tão óbvio, podermos estar um bocadinho com os nossos filhos todos os dias, longe das outras obrigações.
E pôr a tónica mais na qualidade do que na quantidade, isto é uma… surge esta inspiração de diversas formas ao longo do livro. E se calhar foi uma coisa que várias pessoas me disseram.
Outra é muito a ver com a questão do autocuidado. E nós nos esquecemos às vezes que somos pessoas antes de sermos pais ou mães. E algumas sugestões que vão sendo feitas ao longo do livro, também apontam para esta importância do autoconhecimento e do autocuidado nesta nossa dimensão mais pessoal e que nos torna necessariamente melhores pais, se também dermos atenção a elas.
E agora assim de repente são duas coisas que me surgem e que parecem muito óbvias, logo à partida.
Sabes que há uma delas e é única que está a Bolt, a negrito, nas 365, que se chama “crescemos juntos” que é o título do livro também.
Eu tava a lê-las e pensei, porque é que a Inês terá escolhido esta em particular. E ocorreu uma, alguns anos atrás eu fui dar um passeio de bicicleta com um dos meus filhos, já foi há uns anos valentes, talvez há uns oito anos, portanto ele tinha uns 8 anos, ele agora tem 16.
E eu parei um bocadinho atrás e tirei uma fotografia que publiquei no Instagram e estava a pensar que o que é que eu vou dizer super inteligente, sobre esta fotografia, porque todos nós queremos inflar um bocadinho o nosso ego às vezes. E eu ia dizer, que fui eu que fiz esta riqueza, mas antes de carregar no botão, acabei de escrever tu fizeste me a mim.
Porque efetivamente ele fez de mim pai, é o meu filho mais velho e efetivamente nós crescemos juntos e portanto é se calhar uma coisa que permanece, esse efeito, quer dizer parece super filosófico, mas é super verdadeiro.
Nós crescemos juntos.
Escolheste o título por essa razão?
Foi uma coisa que te marcou especialmente?
Foi a editora que escolheu por ti?
E como é que isto aconteceu?
Não, a sugestão foi minha na altura.
E tem um bocadinho a ver com este processo da parentalidade que realmente começa muito antes, até antes do filho nascer.
Enquanto pais realmente nascemos, quando surge em nós o desejo, a vontade habitualmente de podermos ser pais.
E no dia a dia neste conhecimento mútuo e mútuo em tudo aquilo que são os desafios da parentalidade, nós somos postos à prova e testamos os nossos próprios limites de formas que se calhar nunca antes, em situações em que nunca antes tivemos.
E a aprendizagem é mútua.
O crescimento nesse sentido é realmente mútuo e mesmo quando falamos de mais do que um filho, com idades diferentes, a experiência torna-se diferente e muito única e continuamos a crescer e continuamos a aprender.
Portanto a ideia do crescemos muito, é muito esta lógica: o meu papel é importante. E usaste a expressão “moldarmos o barro”.
Mas o inverso também é verdade.
E quando tu falaste dessa imagem do barro, lembrei-me de uma outra metáfora que eu vi recentemente num comentário, a propósito da parentalidade, que era o ator do Will Smith, que falava dos pais, enquanto mestre jardineiros.
Eu achei aquilo genial.
Esta ideia de nós podermos perceber que temos aquisementes que estas sementes muitas vezes nós à partida não sabemos que flores é que estão lá por trás, mas que é fundamental respeitar aquilo que aquela flor quiser ser.
E o nosso papel é cuidar, nutrir, dar atenção, perceber quais são as necessidades, mas acima de tudo, respeitar esse ritmo, esse tudo que já lá está previamente de alguma maneira pré determinado.
E o nosso papel é muito este, o ajudar a crescer.
E de facto nós também quando damos esse espaço para a sementinha crescer, também nós crescemos nesta lógica do autoconhecimento também.
Totalmente!
Eu recomendo o livro toda a gente e empresto as minhas cópias, tenho um monte delas portanto quiserem..
Eu ia passar para o teu segundo livro.
Nós temos imensos temas para falar e temas muito férteis e um deles é o teu segundo livro “Porque a brincar também se educa”.
É um tema pronto, muito prevalente, sobre o qual já falamos literalmente centenas de horas.
Porque nós trabalhávamos especificamente sobre esta área.
O subtítulo é 15 minutos por dia de tempo especial para saltar, sujar, desenhar, sorrir, conversar e sonhar.
Este livro no começo, logo introdução falas de um estudo que a SKIP fez, um bocadinho triste e um bocadinho assustador. E que se calhar eu te desafiava a revelar aqui, porque eu achei particularmente importante.
Lembras te dos números? Queres que eu te ajude?
Os números eu não tenho presentes, mas era aqui um bocadinho esta comparação do tempo que as crianças tinham para brincar e particularmente para brincar ao ar livre, comparado com os números do tempo ao ar livre de reclusos de uma cadeia.
E portanto aqui a ideia era perceber que os próprios reclusos passavam mais tempo ao ar livre do que muitas das nossas crianças.
E o ar livre nesta lógica do brincar, do explorar, do serem aventureiros, do ser… esta liberdade que as crianças necessitam.
E de facto esses números são… se tu quiseres recuperar, porque eu decor não os tenho presentes. Mas eram números aqui chocantes, não é?
Sessenta por cento das crianças, tinham menos tempo de brincadeira do que os reclusos, os cães tinham mais tempo de passeio ao ar livre do que as crianças.
São coisas muito chocantes, porque deviam ser a nossa prioridade e são totalmente dependentes de nós para os levar à rua e para passear com eles em segurança.
E pronto…
Às vezes esse cuidado não está presente em todas as famílias e é uma coisa realmente que nos preocupa, não é?
Este era um assunto muito fértil, eu gostava imenso que nos dedicássemos, depois longamente sobre isto, mas se calhar numa próxima vez, porque tens falado muito sobre brincadeira eu acho que, queria fazer uma coisa diferente sobre este tema oportunamente.
Ia passar ao terceiro livro, que é “o Sonhar” com o arco-íris que é um livro muito recente que tu me…
Nasceu no confinamento.
Nasceu no confinamento.
E que tu me enviaste e que ficou a marinar algum tempo e depois um dia de manhã eu fui ver o livro.
E foi chocante, porque bateram me algumas epifanias, portanto isto é a história do Sebastião, que é uma criança, que descreve um sonho e o sonho dele é o confinamento.
E portanto as emoções e os sentimentos de uma criança, naquele contexto em particular.
Aquilo quando tu escreveste era super oportuno, imagino que te tenham desafiado para escrever isto.
Tinhas a história na cabeça?
Foi difícil chegar a este conceito?
Porque realmente não foste delinear, chegaste lá, tiveste um um caminho inovador e eu achei particularmente genial e oportuno.
Como é que isto nasceu?
Foi uma ajuda da editora.
Foi a editora que propôs podermos criar uma história infantil.
Que de alguma forma ajudasse as crianças.
Não só, a ideia não era falar deste nosso contexto atual da pandemia, embora tenha sido obviamente e o lote, daí o sonho de Sebastião em tudo ser o mundo virado de pernas para o ar e de sermos atirados para dentro de casa e portanto, de alguma maneira retirarem-nos aquilo que é seguro e que nós achamos sempre que controlarmos.
E a ideia era podermos deixar aqui algumas pistas, quer para os pais, quer para as crianças, como é que nós podemos lidar com situações que de alguma maneira fogem ao nosso controlo.
De facto há um conjunto de dimensões nas nossas vidas que nós não controlamos e a pandemia aqui no fundo vai nos trazer confrontado de uma forma muito… eu diria violenta, abrupta, inesperada.
Esta missão que se calhar as coisas nós não controlamos se nos focarmos nisso seguimos determinados caminhos.
Se aceitarmos que as coisas que nós não controlamos e nos focarmos naquelas que podemos dedicar aqui alguma atenção, nutrir aqui algum tipo de ingredientes que nos fortalecem, que fortalecem a nossa resiliência. Portanto a nossa capacidade de adaptação, obviamente que o caminho que vamos seguir será outro.
E portanto o desafio partiu da editora, do Pedro Racing da 08.
E foi um bocadinho ali pensar, olhar à volta a pensar o que é que poderia fazer sentido e a ideia foi surgindo.
Muito bem.
Tu dizes no livro, na parte final, portanto já não está tão dedicada às crianças, está dedicado aos pais. Diz uma coisa que eu já tinha ouvido dizer, mas que pronto, para um leigo não é uma coisa trivial.
Que é que as áreas cerebrais responsáveis pelo planejamento, controle de impulsos, a relação emocional não estão desenvolvidas numa criança.
E que cabe aos adultos de referência, portanto ajudar a criança nessas dimensões.
Portanto às vezes para nós, parece que devia ser uma coisa natural para eles, adaptarem se e escolherem o que é que controla e o que é que não controla e onde se focarem.
Mas não é nada evidente para uma criança e ela não está biologicamente preparada se quer para isso.
Sim.
Eu acho que esse é um lado em termos de neurodesenvolvimento, que retiram grande peso dos pais.
Ou seja ,este perceber que o nosso cérebro, o cérebro está em desenvolvimento durante a vida toda, portanto a neuroplasticidade está lá presente durante a vida toda.
Sabemos que os primeiros cinco anos são determinantes para o desenvolvimento aqui de uma estrutura muito significativa, sabemos que ali os anos da adolescência há uma tarefa de pronin, por assim dizer, que se chama uma.. daquilo que interessa, o que não interessa manter.
Mas verdadeiramente temos um cérebro mais ou menos considerado maduro por volta dos vinte e tal anos.
E esta última área, va lá do cérebro, verdadeiramente desenvolvida é o que nós chamamos o cortex pré-frontal, que é uma zona do cérebro, que está aqui mesmo atrás da nossa testa.
Que é responsável por coisas importantíssimas na nossa vida. A nossa capacidade de planeamento, a nossa capacidade de foco de atenção, a capacidade de tomarmos decisão antecipando consequências e este lado também da regulação emocional, regulação comportamental a regulação emocional.
E de facto, quando nós vemos um adolescente a ser mais impulsivo, uma criança pequenina a fazer uma birra perante uma contrariedade, muitas vezes queremos exigir que sejam capazes DE…
Uma coisa que eles na realidade não conseguem.
Claro que o nosso papel é duplo.
Duplo no sentido de alguns momentos nós funcionarmos com essa a parte do cérebro que eles ainda não têm. Tem de ser o nosso a estar ativado.
E por outro lado obviamente como modelos.
Como modelos e como as pessoas que vão dar as oportunidades, criar as oportunidades para se irem fortalecendo, desenvolvendo com tudo aquilo que nós queremos nessa área cerebral.
Ou seja, não é dizer assim: ah ele não é capaz de regular o comportamento, agora vou ficar de braços cruzados até ele ter 22 anos e já vai conseguir fazer isso.
Não é esse o objetivo.
O objetivo é compreendermos: ele ainda não é capaz ou não vai ser sempre capaz.
O que é que eu posso fazer daqui até ao longo do crescimento, que permite oportunidades para desenvolver aquelas competências e que vão ser competências importantes ao longo da vida.
Absolutamente.
E tu depois dás ótimas pistas e inúmeras algumas dessas competências. Ou então se calhar até hábitos ou focus a desenvolver, como é o caso da gratidão, a trabalhar inteligência emocional, a importância das rotinas, distinguir o controlo do não controlo tens um gráfico muito giro, aliás eu até desafiava aqui.
Fez um trabalho espetacular.
Em que temos aqui uma bola com uma coisa que conseguimos controlar e uma coisa que não conseguimos controlar.
Eu acho que isto é transversal obviamente ao tempo de vida de um humano até à população adulta, absolutamente. Eu acho que, é um bocadinho a minha praia, na gestão também o nosso foco é tentar agir sobre aquilo que conseguimos controlar e aceitar o
que não conseguimos controlar.
Falaste também na importância de termos um… da criança ter um lugar seguro e também muito importante para o final, que é: quando procurar ajuda profissional.
E se calhar aqui, só um pequeno aparte, não sei se podes falar muito disto.
Quão prevalente foi esta realidade agora durante o confinamento?
Essa variável contou a…portanto o confinamento levou às pessoas a pedirem vos mais ajuda psicológica, lá na oficina?
Não tenho presentes números, mas sim Nuno.
Muitos dos pedidos que surgem, não vou dizer que houve um aumento exponencial de pedidos.
Não é isto.
Aquilo que se nota significamente é que muitos dos pedidos têm na origem situações que foram disputadas eventualmente por esta questão de estarmos mais isolados, de nos confrontamos com situações que realmente fogem ao nosso controlo da disrupção, que provocou na vida das famílias.
E portanto isso notou-se, o gatilho
e eu ia aproveitar para fazer uma ponte foi disputado muitas vezes por situações anexadas à pandemia.
E depois perceber também, que tipo de situações vão surgindo, temas muitos associados à ansiedade, algumas perturbações também opressiva ou compulsivas. Aqui temas muito de comunicação na família e portanto de gestão de conflitos, divergências do encontrar espaço para todos. Foram todas muitas situações que foram surgindo, para além da ansiedade também os temas da depressão, particularmente nos adolescentes.
Foram tudo questões que foram surgindo de uma forma significativa, durante estes últimos meses.
Ok.
Eu ia aproveitar para fazer uma ponte para outro tipo de questões que depois tinha aqui para trocar.
E se calhar como pequena introdução, eu acho que assim nem todos tivemos pais super sofisticados, ou gentes ou afetuosos. E para alguns nós se calhar há um problema que é a questão… as nossas lutas passadas ou melhor as lutas que estão para trás versos as lutas que estão à frente.
As lutas que efetivamente ainda temos por batalhar, às vezes não nos damos atenção que devíamos ou não sabemos como batalha-las, porque estamos presos a lutas do passado, algumas delas em conscientes e sejam traumas, sejam lacunas, sejam deficiências ou excessos ou o que seja.
E se calhar a minha pergunta é esta.
O que é que está ao nosso alcance?
Quer antes de irmos procurar ajuda profissional, o que é que está o nosso alcance, fazer para distinguirmos uma luta lá atrás com uma luta cá da frente?
Sei que esta pergunta é complicada.
Essa pergunta é daquelas está pronto para manhas.
Eu acho que há um passo que é importante sempre, que é nós termos, criarmos momentos para pensarmos, pensarmos na nossa história, pensarmos em nós.
Porque realmente somos feitos aqui de várias pecinhas.
E muitas vezes nós temos alguma, se bem percebi onde tu querias chegar, se era chegar propriamente a algum sitio.
Nós muitas vezes temos até consciência que há aqui essas lutas que ficaram lá para trás como tu dizes. E fazemos algo que não é o desejável, que é o evitamento.
Que é o eu nem quero pensar nisto, eu não quero pensar nisto, porque isso pode doer e porque se doer vai afetar negativamente o meu presente e o meu futuro.
E a grande estratégia é precisamente o contrário.
É parar e dedicar algum tempo se calhar, a trabalhar, arrumar, a elaborar esse tipo de coisinhas que vem lá de trás e que obviamente podem condicionar o nosso presente.
Isto aqui é uma estratégia importante que, muitas vezes usamos esta lógica devidamente evitamento experienciado, evitar certos temas achar que evitamos determinadas emoções.
Só que as coisas se não forem arrumadas, não foram elaboradas, criam mossa.
E eu costumo usar muitas vezes aqui duas metáforas com os miúdos, que é: se eu for pondo as coisas todas para debaixo do tapete eu finjo que elas não estão lá, mas elas continuam lá.
E quando eu vou caminhar em cima do tapete, há ali um momento em que o chão deixa de ser uma coisa plana e está ali um bocadinho, andamos um bocadinho em desequilíbrios constantes.
Ou pensando, por exemplo, na imagem da panela de pressão. A panela de pressão funciona muito bem Se nós formos tendo o nosso escape para libertar a tensão.
E a tensão pode ser do presente ou para conhecer coisas que vem lá de trás.
E quando nós fazemos este registo mais do que evitar entrar em contato com as coisas, estamos numa lógica de contenção e tal como uma panela de pressão se o pipo não estiver a funcionar bem aquilo dar uma uma grande explosão na cozinha.
No ser humano também vai dar essa explosão, vai dar de muitas variadas formas, vai dar, porque começamos com sintomas somáticos, com dores de barriga, de cabeça, alterações gastrointestinais. E quando eu digo nós, é nós adultos, ou nós crianças mais pequeninas.
Há aqui alterações em termos de humor, que não estavam lá e que começam a surgir, alterações por exemplo nossa capacidade de descansar, alterações que podem surgir do ponto de vista mais comportamental, ou porque nos tornamos mais impulsivos, mais reativos, mais impacientes e portanto esse é o verdadeiro perigo.
De não queremos ou acharmos que o que está lá para trás necessariamente não nos vai condicionar.
E podemos nesta tentação de o: não quero, não quero mexer.
Não sei se respondi bem à pergunta.
Respondeste perfeitamente.
É óbvio que eu te faço esta pergunta no contexto da parentalidade, porque lá está, de volta à imagem do oleiro se nós tivemos um oleiro pinguço ou ensonado ou inconsciente não tem o alfabeto básico vai sair asneira, não é?
Portanto achei particularmente importante falarmos aqui um bocadinho na questão da saúde mental e da nossa bagagem, que muitas vezes que nos trava sem nós termos noção e por vezes estamos bloqueados e não conseguimos chegar à frente e pelas dificuldades muitas vezes com os nossos modelos, às vezes acabamos por ter dificuldade em dizer que gostamos da criança, sermos gentis com eles, porque nós próprios não tivemos acesso a esse é menu de bons comportamentos e portanto pode nos surpreender.
Mas no fundo também para nós percebermos aquilo que queremos e não queremos para nós ou os nossos filhos, é importante termos essa capacidade de revisitar a nossa própria experiência.
E perceber numa primeira instância eu quero isto, eu quero perpetuar de alguma maneira este modelo ou eu quero me aproximar de um modelo diferente.
Portanto esta é a importância do revisitar e depois se conseguimos ou não conseguimos, sozinhos de forma mais autônoma e este: ok, como é que eu vou fazer, qual é o caminho que quero adotar?
E é muito importante estarmos também… fazermos momentos de pausa, como eu lhes chamo.
Estarmos em contacto com aquilo que são os nossos valores, enquanto país na parentalidade, percebermos muito bem o que é importante para mim e do qual eu não quero abdicar, que pode ou não entrar em disrupção com o que vem lá de trás, mas conseguimos termos esses momentos, nós nos alinharmos com aquilo que nos faz sentido enquanto pais.
Ok.
Quais é que seriam na tua opinião, as disciplinas que deveríamos ter numa escola de pais?
Imagina que essa figura existia.
Como é que nós poderíamos etiquetar as disciplinas?
Porque eu sei que elas se calhar são muito holísticas e é difícil particularmente difíceis para ti, que sabes as 100 disciplinas necessárias, escolher cinco ou seis que nós podemos passar neste espaço e neste tempo, mas que..
Gostavas de fazer este exercício?
Estou a pensar um bocadinho.
Faz sentido a questão, acho difícil nós arrumarmos, porque é fácil de facto chegarmos a uma livraria e pensarmos assim: há aqui este livro sobre este tema, sobre este…
Aquilo que eu vou notando muitas vezes nos pais e nas famílias é que há aqui preocupações com coisas muito funcionais.
E que são importantes em termos do nosso funcionamento, o banho, a melhor escola, a melhor estimulação de brinquedos, por exemplo, a alimentação, o sono.
E há sempre aqui uma disciplina se lhe quiseres chamar então assim, que felizmente já vai sendo diferente, mas que tem muito a ver com a inteligência emocional.
A importância de tudo o que tem a ver com o nosso mundo emocional.
Que nem sempre é dada a devida primazia.
Então tudo o que tivesse muito a ver, possam ser subdisciplinas, que possamos anexar à nossa saúde mental, saúde emocional, eu acho que esta sensibilidade era importante para qualquer par.
Mas também acima de tudo, pensando nesta escola de pais não há ideias predefinidas obviamente.
Há linhas orientadoras que decorrem na área de parentalidade, aquilo que pode ser mais protetora em termos de desenvolvimento, mas eu diria que a ideia da escola, existiria uma escola de pais indicada para cada família.
Porque as suas necessidades vão ser realmente diferentes.
As suas realidades vão ser diferentes.
E portanto os pais poderem buscar tudo aquilo que possa ser informação que possa dar resposta aos medos, às suas dúvidas, aos seus anseios e ao mesmo tempo que lhes transmite segurança.
Que é importante.
Há bocado falávamos daquele dado neurodesenvolvimento do cérebro, essa é uma área interessante.
Que é quando os pais conseguem perceber o que se passa lá dentro dos filhos, do que está na cabecinha deles, conseguimos desmontar a coisa, nota-se também um alívio muito grande.
E portanto se calhar poderia ser também uma disciplina interessante, não nos tornarmos pais neurocientistas não nessa lógica.
Mas percebermos um bocadinho, traduzirmos, porque é que é desta maneira?
Porque é que a reação tendencialmente é esta?
Porque é que é importante fazer isto? E não fazer aquilo?
Podia ser uma área também interessante para abordarmos.
Muito bem!
Sabes que eu hoje de manhã, estava a ouvir um podcast, um senhor que se propunha formar os pais para serem faixa-preta cinturão negro de parentalidade.
Era um senhor brasileiro, que curiosamente, era cinturão negro de karaté.
E ele estava a descrever a disciplina como o comportamento que tu tens mesmo quando ninguém está a ver.
Portanto algo que te ficou enraizado.
E por exemplo a mãe dele não gostava que eles entrassem calçados em casa. Ele disse que a disciplina e se.. quando ele chega e ela não está lá, e descalça os sapatos.
É óbvio que isto passa pela prática, passa obviamente por um tempo de consolidação dos conhecimentos e portanto começar a senti-los.
E a minha pergunta seguinte era: como é que se passa de nada ou da inocência para ter o saber e depois ser o saber?
Olha, tu a pessoa que estavas a dizer que ouviste nessa imagem quanto disciplina, eu uso muitas vezes essa imagem daquilo do que nós fazemos independentemente quem está a ver muito associado aos valores.
Daquilo que vem de cá de dentro, não é?
Motivação eu faço, porque faz sentido fazer, porque entro em sintonia comigo e não necessariamente porque quero corresponder à expectativa de alguém, porque quero receber uma determinada gratificação.
Como é que nós passamos por essas fases, que tu enumeraste?
Essencialmente com a experiência, com prática, com o experimentar, com o não ter medo de fazer.
E pelas nossas experiências, lá está, tudo o que é contacto com os outros e contacto com o mundo. O conhecermos a nós e conhecermos ao mundo. É isso que nos vai ajudar a definir os nossos caminhos.
Assim tanto uma coisa muito importante que é a hipótese de falhar ou de errar, por exemplo, como algo que faz parte do nosso caminho e que também ajuda à nossa construção.
Portanto, assim de uma forma muito delinear.
Respondendo à questão que tu colocaste , faz-se duas coisas, duas formas.
Fazes experimentando e faz com o ir moldando aquilo que para nós é importante.
Aquilo que é importante para a forma que nos sentimos enquanto pessoas, lá está, os nossos valores.
E a conjugação desta coisa.
O que é que eu sou? Como é que eu me vejo? O que é que me faz sentido? O que é que me preenche?
Obviamente que se constrói o caminho do ser.
Muito bem.
Olha esta pergunta se calhar é um bocadinho difícil para ti, porque tu és escritora e isto deve ser particularmente complicado.
Mas a minha pergunta era, que livros é que te marcaram particularmente? E se recomendas alguns livros?
Obviamente além dos teus.
Que os teus, recomendo eu por ti.
Mas tens algum que te tenha ficado na memória? Mesmo algum recente, particularmente que seja entendível pela nossa audiência.
Pronto, se calhar não são todos psicólogos como tu.
Sim.
Sabes que essa é uma pergunta muito gira e que às vezes surgem e nós próprios nos colocamos a nós próprios.
E sou uma pessoa que desde pequenina li muito muito muito.
E agora, enquanto adulta, leio muito, por questões profissionais e portanto livros mais técnicos se quisermos.
E leio tudo o que possam ser outros géneros de livros.
E nunca na vida consegui eleger um livro.
Tou a imaginar, sim.
É verdade.
Eu acho que quando nos colocam esta questão, o que é que te marcou, o que te fez sentir…
Último que eu li é aquele que se calhar pode fazer mais sentido, aquele eu neste momento escolhi, sei que me poderia acrescentar qualquer coisa.
E apesar de ser uma pessoa que lê muito, se calhar é por isso, que eu nunca consegui selecionar um livro que me marcasse.
Todos eles, eu retiro alguma coisa.
E faço uma coisa, que talvez, para umas pessoas seja muito estranho, há outras que conseguem perceber. Eu vivo os livros e até, se tiver a ler um romance, eu sublinho os livros, até porque não faz sentido.
E portanto eu acho que todos eles de alguma maneira teram me trazido alguma coisa, todos os livros que li até hoje.
E mais difícil ainda, escolher um dos teus.
Tens algum preferido? Ou vai ser o próximo que tu escreveres? Ou dois à frente desse? Tens alguma ideia?
Não, porque acho que todos cumpriram a sua função, portanto eu não consigo dizer que há um preferido.
Próximo é aquele que desafia mais. Sempre, não é?
Ok.
Então vamos passar dos livros para os filmes.
Nos filmes, tens algum que queiras escolher?
É giro, porque apesar de não ser tanto a pessoa visual, de ver os filmes.
Há sempre um ou outro filme, que me foi marcando.
Aí sim, é giro.
Sei lá, posso destacar aqui um ou dois.
Há um livro que me marcou muito, Já não o revisito à muito tempo.
A Vida é Bela .
Essencialmente porquê?
Pelo poder que a imaginação pode ter na capacidade de nos habituarmos a uma situação dura, dura dura.
Pelos papéis que os pais podem ter. A resposta dos pais perante uma situação, num determinado contexto.
Pode ser determinante como a criança se adapta a qualquer situação.
Portanto tenho aqui um filme pesado.
Mas que tem esta mensagem do poder da nossa imaginação e dos pais enquanto veículo de segurança, mesmo perante uma situação cenário super doloroso, não é?
Esse é um filme que eu já não revisito há muito tempo, mas que tem uma mensagem interessante.
Ele já tem imensos anos e por acaso devia ver. Porque a primeira vez que o vi, eu tenho 1 filho e agora tenho 4.
Portanto tenho de olhar para aquilo denovo.
E mais algum, que queiras destacar.
Assim mais recentemente que eu tenha visto, lembro-me de um filme que vi na Netflix, que era “The magic story”.
Não sei como é que está o nome em português.
E lá está, às vezes não é o filme, não é a grande história, é a mensagem que se vai captar num ou noutro momento.
E posso te dizer, que o meu clique em relação a aquele filme, que resiste ver até ao fim, ali mesmo nas últimas imagens, nas últimas cenas do filme e que tem muita ver mais uma vez com o papel dos pais na vida dos filhos.
E a forma como os adultos gerem as situações ou não construtiva ou pode ser o seu papel na vida dos filhos.
E o filme fala sobre a situação de divórcio com muito desentendimento pelo meio, mas que tudo muda apartir do momento em que o foco fica no filho, no bem estar do filho.
E há lá uma cena que eu achei deliciosa, que não vou contar para eu não estragar, mas que tem muito a ver com isto, com o nós conseguirmos deixar de ser egoistas connosco próprios, não é?
E pensar nos nossos filhos.
Este tema, também é um tema que varia mano para mano, esta situação aqui das separações e do impacto que isso tem nos filhos.
Mas foi um filme que me marcou… e com crianças.
Muito bem.
E o inside out? O divertidamente, o quão genial esse filme é?
Como todos os filmes de animação.
Eu acho que há sempre várias camadas de leitura.
E esse filme está delicioso.
É um filme que eu recomendo sempre aos meus pacientes, de qualquer idade, para ver.
Precisamente, por aquilo que falávamos há bocado, a inteligência emocional.
Da importância de nós conhecermos o nosso mundo emocional e o papel que as emoções desempenham na nossa vida.
E conseguir desmontar o que se passa cá dentro, através de um filme de animação está.. na minha óptica está GENIAL!
É um filme que eu recomendo sempre, aos pacientes de todas as idades.
E que lá está, é quase como se os filmes tivessem uma cena me marca.
Há ali um momento no divertidamente, em que toda a história, tem ali uma mudança, quando ela aceita, uma emoção que passou durante muito tempo a tentar calar.
Quando ela dá espaço para a tristeza dela surgir, há ali qualquer coisa no filme que flui de maneira diferente.
E isto remete aquilo que falávamos há bocadinho, de fazer evitamento.
E esse filme ajuda-nos a desmistificar um conjunto de mitos, que muitas vezes temos associadas às emoções, de crenças com que crescemos associados às emoções e que é importante realmente olharmos como crenças, que não são nossas amigas, meias disfuncionais e olhar de maneira diferente para as emoções.
Ya, totalmente.
Super recomendado esse filme também.
Mudei imenso a minha forma de pensar e de agir.
Não só a nível pessoal como para os meus filhos.
Lembraste de algum falhanço importante, que te tenha marcado? E que te tenha ajudado a sucesso futuro?
Meu?
Sim teu.
Pode ser profissional, se calhar pessoal não é o canal certo.
Contas-me no próximo almoço.
Seguramente eles existiram.
Mas se calhar, por algum motivo, eu não os tenho presentes.
E eu vou explicar porquê.
Porque havia um professor meu na faculdade que dizia que o maior erro, é cairmos repetidamente num erro.
Nesta lógica de, errar é humano.
E por detrás do erro há qualquer coisa em que podemos crescer, em que podemos aprender, não é?
E a verdade é que seguramente quer do ponto de vista pessoal, quer do ponto de vista profissional, terei errado muitas vezes. Mas o foco lá está, não fica no erro e fica se calhar, no que é que eu aprendo com esta situação, o que é que eu quero fazer diferente numa situação semelhante no futuro.
Eu digo muitas vezes não só nas consultas, mas também em informações, para pais, para professores, faço a aqui a analogia com o caráter chinês, da palavra crise.
Que esconde 2 conceitos amigos.
Amigos não.
Quase idênticas, aqui esta noção o mesmo caráter, crise. Enquanto perigo e ao mesmo tempo o conceito de oportunidade.
E se calhar é mesmo importante olharmos para as situações em que erramos, em que falhamos, como oportunidades de crescer e de os aperfeiçoarmos.
E quando nós vamos olhar à nossa volta, muitas grandes invenções, resultaram de falhanços prévios muito grande, não é?
E tudo dependendo da forma como a pessoa, dos inventores por exemplo, olharam para essas falhas.
Um exemplo muito comum é o exemplo do post it. o exemplo era exatamente o oposto daquele. De criar uma cola fraquinha, o objetivo era de criar uma coisa que colasse mesmo. E a verdade é que nós vamos ver e não há muitas casas que não tenham post its.
Eu sou super fã.
E que resultou dessa falha, do erro enquanto oportunidade de crescermos. E esta tem uma mensagem importante em relação de parentalidade, para passarmos aos nossos filhos.
Como é que nós lidamos com os erros, os nossos e os deles.
Muito bem.
Olha, se pudesses ocupar um cartaz gigante para toda a gente ver, que mensagem é que escolhias para colocar.
Olha que coisa interessante.
Um cartaz?
Por exemplo, como aqueles em Times Square.
Visto por milhões de pessoas todos os dias e tu tinhas a oportunidade de colocar lá uma mensagem que tu achas que falta às pessoas.
Ui!
Não sei se queria essa responsabilidade.
Pode ser uma anedota, pode ser alguma coisa que te tenha marcado.
Tu às vezes tens alguns quote, que colocas nos teus livros.
Não sei se algum deles te marca particularmente.
Alguns deles são realmente semelhantes, para outros pensamentos, não é?
Eu acho que dependeria muito do dia, em que iriamos selecionar, se calhar dependia aquilo que colocaria.
Aquilo que agora, mais automaticamente me ocorreu e não me ocorre uma frase que merecia ir para Times Square, mas esta importância de nós desaceleramos e aproveitarmos o presente.
E se calhar um convite a isso, um convite a desacelerar e estarmos verdadeiramente presentes, no aqui e no agora, como algo importante para pensarmos.
Foi assim o que me ocorreu agora.
Não é muito sexy a ideia.
A ideia não, a ideia é capaz de ser, mas a frase…
A ideia é por aí.
Eu acho que a ideia é super sexy, porque se efetivamente for ouvida pelas pessoas e posta em prática e implementada, não poderia ser mais sexy.
Acho que se calhar, a chave, não é?
Aquela conexão e espiritualidade agora mais moderna, que está a ficar na moda do mindset.
Começa a estarmos presentes e conseguirmos fazer um scann às nossas emoções e observarmos o que está a acontecer agora, não estarmos distraídos com o telemóvel, estarmos à procura daquela notificação ou aquele scroll que coisa desinteressante é que nos pode ocupar mais 1 segundo.
Tem mesmo a ver com essa lógica do estarmos ligados ou estarmos desligados daquilo que se passa à nossa volta.
E a experiência do contacto com a realidade, vai realmente ser diferente.
E a diferença pode estar entre sermos pessoas mais reativas, às situações e às interações.
Opções muito mais conscientes e essa consciência de estarmos sintonizados connosco e com tudo o que se passa à nossa volta.
Vai nos trazer uma sensação de preenchimento e de satisfação, verdadeiramente valiosa, não é?
Muito bem.
Olha, nos últimos anos que nova crença, comportamento ou hábito mais melhorou a tua vida?
Só fazes perguntas difíceis!
Porque eu acho que tu consegues responder.
Se calhar, vindo disto do que estávamos a falar, uma coisa que me tornei mais… vou fizer exigente comigo, foi precisamente esta importância de me disciplinar. Não estar sempre a pensar no que vem a seguir. Em termos gerais.
Ou seja, a importância de limitar muito bem as várias esferas da vida e não querer de chegar a todo o lado, ao mesmo tempo. E encontrar espaço, também pegando naquilo que falávamos há bocadinho, isto também foi algo que tenho trabalhado imenso.
Encontrar espaço para mim, para os meus balõezinhos de oxigénio.
E portanto esta importância de não me esquecer que há aqui uma Inês.
Além da Inês mãe, além da Inês psicóloga, além da Inês que escreve livros.
Os meus balõezinhos de oxigênio e tornar-me muito exigente comigo, na importância de eles existirem de uma forma permanente, no meu dia a dia. Nos cabos, vamos dizer assim.
Genial. Ok.
Muito importante essa questão também das várias âncoras, que nos seguram e que é super fácil de esquecer se não tivermos um método ou se não nos disciplinarmos para isso, não é?
Olha, que conselhos darias a um jovem casal com crianças pequenas, ou que tivessem a planear em ter um bebé?
O que é que achas que devíamos ter ouvido?
Ou então se calhar, um conselho que daria a ti própria, enquanto pré mãe ou mãe de primeira viagem…
O que é que achas que te faltava saber nessa altura e que só mais tarde, vieste a descobrir?
Ui, há tantas coisas.
Não, mas se calhar há 3 ou 4 coisas que podemos realçar.
Uma é a inspiração que abre o crescemos juntos, que é que, não há pais perfeitos e esta é uma boa ideia para nós abraçarmos a caminhada da parentalidade. Temos consciência que a perfeição é uma impossibilidade, quando falamos da parentalidade.
E portanto sim, podemos e devemos estar alinhados com aquilo que é importante para nós.
Com os tais nossos valores e tentar dar todos os dias o nosso melhor, Mas perceber que a perfeição não é uma possibilidade.
Depois aqui como falávamos há pouco, das nossas várias férias do nosso ser. Um jovem casal que decide ter filhos, lembrar-se que apartir do momento que nascem os pais, não desaparece por exemplo, o casal. E não desaparecem eles enquanto pessoas.
E refletirem com este plano, como é que vai ser quando o nosso filho nascer, onde é que vai ficar o casal, quais vão ser os momentos do casal. E quais vão ser os momentos teus, só teus e que curiosamente são fundamentais para tu te tornares numa melhor mãe ou num melhor pai.
Muitas vezes vivemos aqui nesta sombra da culpa do: se eu for ao ginásio e deixar o meu filho em casa um bocadinho, ou se for dar uma caminhada e ter com um amigo, estou a ser uma péssima mãe.
Não!
Pelo contrário.
Estou a investir no meu bem estar e para eu poder cuidar bem de alguém, eu também tenho de estar bem.
Portanto esse jovem casal, poder apostar aí nesse espécie de planeamento e perceber que aquele filho vai ser a prioridade, mas para ele ser a prioridade há outras fatias das suas vidas às quais tem de dar muita atenção.
E daqui decorre a importância da comunicação, sempre em qualquer relação, naturalmente.
E da comunicação constante em termos de ansiedade, em termos de partilha de dúvidas, de receios e associar se calhar, a estes receios, a noção também que há sempre aqui um ideal e que ele quer o confronto com a realidade.
E portanto contam-nos muitas histórias cor-de-rosa, em termos de parentalidade. Mas a realidade por muito que se planeie, a realidade vai-se construindo e nem sempre são feita coisas, o prazer é sempre o máximo, não é?
Mas temos de preparar aquilo que idealizamos e aquilo que depois vai ser a realidade, às vezes há aqui, um gap. Para o qual ninguém nos preparou.
Totalmente.
Olha, que más recomendações é que costumas ouvir na tua profissão? Ou relacionadas com a tua profissão? Ou com a parentalidade?
Às vezes há ruído, acredito que há coisas que te façam…que te arrepiam um bocadinho.
Queres escolher uma, para quem nos está a ouvir?
Eu acho que procuro não ver essas coisas.
Precisamente para não criar cócegas.
Existirá. E tu se calhar estás-te a lembrar de alguma coisa, ou em algumas coisas no qual já terás tropeçado.
Há muito ruído, há muita informação.
Está muito acessível a todos nós.
Acima de tudo é importante conseguirmos filtrar as fontes, da informação que recolhemos.
Claro que tendo em conta ao que os meus colegas de profissão vão dizendo, vão fazendo, mas não consigo, de todo, apontar aqui o dedo, isto é um erro crasso que foi dito, não.
Mas deixo se calhar esta recomendação, para enquanto pais podemos sempre ter atenção de qual é a fonte da informação, que estamos a pesquisar.
Porque isso pode ser determinante e depois muitas vezes também nos confrontamos com as informações que podem ser, que podem não ser muito concordantes logo à partida, isto não significa que as duas sejam informações erradas, ou informações imprecisas.
Porque muitas vezes, tem a ver com aquilo que nos faz mais sentido, que se ajusta melhor à nossa realidade.
E portanto temos esta sensibilidade.
De ok, procurar informação, mas que possa ser mais credível possível.
E quando aquilo deixa dúvida.
Ninguém nos impede de ir perguntar, pesquisar num outro sítio, com uma outra pessoa.
Claro.
Olha e quando te sentes assoberbada ou com falta de foco.
O que é que tu fazes?
Que tipo de perguntas é que te colocas, nessas alturas, para te voltares a centrar?
Paro. Em primeira instância.
Nesta noção que tenho de ter consciência que…
Quanto tempo é que te demoras a parar?
Quão fácil é para ti reconheceres isso?
É porque às vezes para mim passam-se meses, estou na máquina de lavar e demoro imenso tempo a dizer que estou a fazer imensa asneira, imensa cagada, tenho de parar aqui algum lado.
Acho que não demoro muito tempo, Nuno.
Precisamente por aquilo que há bocado dizíamos de nos esforçar para os tais momentos de pausa e olhar para dentro.
Quando entro no piloto automático, não demoro muito tempo a perceber lo.
Mas há pequenos sinais, não é igual em todas as pessoas, mas há pequenos sinais.
Ou porque ficamos mais rabugentos ou porque ficamos mais impacientes ou porque a nossa capacidade de foco…
Estes exemplos que vou dizendo, é um bocado daquilo que vou experienciando.
Ou porque a capacidade de foco se perde, porque o cansaço físico está lá.
Porque a mente se dispersa com uma facilidade maior.
Portanto isto são pequenos sinais de alerta que reconheço em mim e são os que eu sei parar.
Parar, muitas vezes temos de fazer escolhas e trazer as prioridades ao de cima.
E arrumar aquilo que estamos a fazer e que temos para fazer.
Portanto, essa noção do too much, não é?
Esta noção de demasiada coisa acontecer é: eu reconheço muito bem e quais são os sinais disso em mim.
Portanto todos nós reconhecemos.
Quais são os sinais individuais que eu tenho, de alerta.
Para depois poder parar e tomar, fazer escolhas, tomar decisões.
Ok.
E tu nas perguntas, às vezes quando paras tens algum método ou alguma forma de te centrar ou se calhar na tua profissão se já existem perguntas por defeito, que nós devemos começar por elas, ou não?
Este parar e observar é muito sem perguntas pré determinadas.
Mas se tivéssemos que meter lá com algumas legendas, é: repara naquilo que estás a sentir, NO SENTIR, não é?
É o cansaço físico, é o vazio, é o aceleramento.
Repara o que estás a sentir.
Não é bem uma questão, é mais um desafio e depois a pergunta seguinte é o que tu precisas, agora.
Ok.
Essa é boa.
Se calhar não me lembrava disso.
Olha Inês, eu não tenho mais perguntas para ti.
E nós tivemos aqui alguns comentários, as pessoas basicamente agradeceram a iniciativa.
Se calhar nas próximas vezes, vamos divulgar isto um bocadinho mais.
Este é o nosso primeiro podcast.
E eu estava aqui um bocadinho nervoso.
Portanto não devia divulgar isto com muita energia.
Se calhar no próximo já vamos tentar angariar aqui uma audiência maior e deixarmos um espacinho maior para as pessoas fazerem perguntas.
Agradecer a tua disponibilidade, isto é um domingo.
Tiraste tempo à tua família.
Foi um previlégio.
Super obrigado pelo teu tempo.
E pelas questões que nos vão agora fazer a todos refletir.
E fica já um convite para uma próxima vez.
E se puderes vir muitas e muitas vezes, nós aceitamos.
E eu tenho a agradecer muito o desafio, não é?
Porque sabes que sou incapaz de dizer que não a estas coisas e retirei um bocadinho da famílias, mas sei que este bocadinho também foi bom para nós.
Vai a seguir compensar a família, em qualidade, lá está.
Da qualidade e não só na quantidade de tempo.
Estes desafios, são deliciosos, portanto bora lá aos próximos.
Olha, nós estamos confinados.
Não podemos fazer isto frente a frente.
Se calhar o que falta, o que fez mais falta nesta nossa conversa foi o nosso abraço final.
Mas deixamos para quando for mais seguro.
Recebe daqui o meu abraço virtual, está bem?
Recebe o meu.
E muitos beijinhos e até breve.
Beijinhos!
Até breve! Bom domingo, Nuno!
Tchau
Parentalidade Consciente
Inês Afonso Marques
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