Presentes de Natal: sabe dizer «não» aos seus filhos?
Falta pouco mais de um mês para o Natal e as decorações alusivas à época já estão por todo o lado… assim como anúncios, promoções e apelos à compra antecipada dos presentes.
Para as crianças esta é uma época de magia mas, para os pais, pode ser um verdadeiro pesadelo no que toca a gestão de expectativas… e do orçamento familiar. A psicóloga Cláudia Morais explica-nos, numa entrevista esclarecedora, como é que pais e educadores devem lidar com a antecipação desta época… sem quebrar o encanto do Natal… e a conta bancária.
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Novembro ainda agora começou e os ‘alertas Natal’ estão por todo o lado. Quando é que se deve começar a falar de presentes e de que forma?
É possível falar de presentes de Natal durante o ano inteiro, desde que o façamos da forma certa. Aquilo que não faz sentido – em momento nenhum – é utilizar o assunto para subornar a criança, com o objetivo de a incentivar a “portar-se bem” ou a fazer as escolhas que gostaríamos que ela fizesse.
Os presentes de Natal são uma excelente oportunidade para aplicarmos a parentalidade consciente, desde que nos mantenhamos atentos aos nossos valores e às nossas genuínas intenções na educação dos nossos filhos.
Por exemplo, se escolhermos mostrar-lhes a importância do respeito pelas nossas próprias necessidades, o mais provável é que isso nos leve a gastar apenas aquilo que podemos, sem exageros.
Se quisermos mostrar-lhes o nosso amor incondicional, podemos explicar que esta é só mais uma forma de manifestação de afeto mas que não é a única e que muito menos está relacionada com o comportamento da criança. Os pais, o Pai Natal ou o Menino Jesus gostam de cada criança independentemente dos seus sucessos ou insucessos.
«É importante que reflitamos sobre a importância de dizer ‘não’»
Qual é a melhor forma de ensinar uma criança a escolher um presente? O que é que se deve explicar?
A escolha vai sobretudo traduzir os valores de cada família. Se, para os adultos, a aceitação social for mais importante do que qualquer outra coisa, o mais provável é que a criança seja incentivada – direta ou indiretamente – a escolher os presentes mais caros, como se o seu próprio valor dependesse disso.
Se o foco estiver no espírito de partilha, o mais provável é que os pais incentivem a criança a valorizar a intenção de quem oferece, mesmo que não receba exatamente aquilo que esperava.
É importante reforçar a mensagem de que o valor da criança é independente destas ofertas e que o amor que os adultos sentem não é mensurável pelo número de presentes.
Como é que se deve explicar às crianças o significado do Natal? e para quem não é religioso?
Talvez não seja por acaso que o Natal é celebrado por tantas pessoas que não têm qualquer papel religioso. O Natal é, sobretudo, uma grande oportunidade para se criarem rituais familiares, tradições que potenciem a união. É por isso que também é uma época que convida a alguma reflexão e que, de uma maneira geral, nos ajuda a ponderar sobre algumas escolhas e facilita a aproximação às pessoas que são importantes para nós.
Cada família tem os próprios valores e tradições e tem nesta altura do ano a possibilidade de refletir sobre aquilo que quer transmitir aos filhos. É importante que reparemos no facto de “explicarmos” o significado do Natal quer verbalmente, quer através das escolhas que fazemos.
E quando as crianças pedem presentes caros? Como é que se diz ‘não’?
É absolutamente natural que uma criança peça e deseje ter um presente caro. E também é natural que os pais e mães se sintam angustiados perante a impossibilidade de gastarem muito dinheiro.
Mas, mesmo que o orçamento o permita, é importante que reflitamos sobre a importância de dizer ‘não’ e sobre a importância de lidarmos, desde cedo, com a frustração.
Isso passa por ensinar aos nossos filhos que o nosso valor não se mede a propósito das coisas que possuímos, por mostrar-lhes que os nossos desejos não são as nossas necessidades e por conversarmos com eles sobre a importância de fazermos escolhas que traduzam as nossas intenções.
Perguntar ‘Para quê?’ pode ser desencadeador de algumas surpresas. ‘Para quê que eu quero isto? Para me sentir bem? Para agradar/ impressionar alguém? Para mostrar o meu valor?’.
Dizer ‘não’ não tem de ser dramático, sobretudo se se explicar à criança que essa escolha tem um propósito. Quando o pai ou a mãe escolhe não gastar mais do que determinado valor com um presente também está a ensinar aos filhos – de forma prática – a importância do respeito pelas próprias necessidades.
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Os avós/padrinhos/tios podem oferecer o que lhes apetece? Como fazer essa gestão sem ofender ninguém e sem que a criança fique ‘mergulhada’ em presentes?
Cada família tem as suas “regras” que, na prática, refletirão os seus valores e os seus laços. Se as relações familiares forem pautadas pelo respeito mútuo, o mais provável é que os adultos consigam chegar a acordo sem tensões.
O Natal também convida à flexibilidade, à paciência e à compaixão. Às vezes, os avós, os tios ou os padrinhos não têm propriamente a intenção de desrespeitar ninguém. Têm apenas a intenção de mostrar todo o seu amor. Os pais e mães têm sempre a oportunidade de, por exemplo, guardar alguns presentes e oferecê-los às crianças noutras alturas do ano com o objetivo de as ajudar a valorizá-los.
Cláudia Morais é psicóloga e terapeuta familiar

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